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NOTA DO SINTUFAL SOBRE OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS VIOLENTOS NA UFAL

NOTA DO SINTUFAL SOBRE OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS VIOLENTOS NA UFAL

Os recentes casos de assaltos dentro do Campus A.C. Simões têm levantado mais uma vez o antigo problema da UFAL quanto à questão da segurança. Queremos, primeiramente, nos solidarizar com as vítimas desses traumáticos eventos e enfatizar que não podemos naturalizar esses fatos que atentam contra o nosso ambiente de estudo e trabalho. Ademais, não podemos deixar que o clima de medo nos paralise ou domine as alternativas que devem ser construídas. Diante de temas complexos e difíceis, não há soluções fáceis e simples. Portanto, é preciso desde já abrir um amplo debate dentro da comunidade acadêmica, com a seriedade e serenidade que a situação exige.

                Situados em uma das regiões mais violentas da capital, que por sua vez é uma das mais inseguras do país, o Campus A.C. Simões e o HUPAA vivenciam há décadas diversos casos de violência. Tal problemática repete-se em diversos outros Campi em todo o Brasil, revelando que o caso da UFAL não pode ser pensado fora do contexto da grave crise de segurança pública no país e do processo de precarização das Universidades Federais.

                Entender que a violência na UFAL é parte de um contexto de crise mais ampla de segurança pública no país, não deve ser entendido como uma forma de contornar sem enfrentar o problema. Contudo, ignorá-lo seria apostar em soluções ilusórias. Com índices de violência superiores a regiões em guerra, a segurança pública no Brasil demonstra cada vez mais sua total falência, vitimando, sobretudo, os setores mais oprimidos da sociedade. Desgraçadamente, os governos mantêm a mesma agenda e modus operandi, que muito longe de melhorar, tem reforçado a violência urbana.

                De um lado, uma sociedade clivada em uma desigualdade social terrível, que expõe suas feridas ainda mais quando em uma situação de crise capitalista e de cortes nos gastos públicos. De outro, a manutenção da política de “enxugar gelo” na segurança, apostando todas as fichas na repressão. Essa política tem sido responsável pelo aumento dos crimes nas cidades brasileiras, sobretudo se considerando o modelo de polícia vigente, completamente ineficiente e que se degenera pari passu a escalada da violência. Neste sentido, esse contexto que transpassa a Ufal, obriga-nos a saber que não haverá solução definitiva para esse problema enquanto o abismo social perdurar. Portanto, as ações paliativas de interação entre a Universidade e os órgãos de segurança pública precisam ser pensados em um marco de políticas estruturais e preventivas.

Reduzir todo o debate a questão da presença da PM no Campus é em si já se afastar de soluções mais duradouras. Sobretudo porque uma política efetiva de segurança é muito mais abrangente do que o aspecto repressivo da mesma, é preciso criar condições para prevenção. Desconsiderar que a Polícia Militar, pela forma que é estruturada, não tem preparo para lidar com o ambiente acadêmico e que, portanto, sua presença permanente e ostensiva no campus geraria diversos problemas e ainda assim não garantiria a segurança efetiva (como não o garante em qualquer local do país) nos parece temerário. Tal iniciativa seria ainda mais prejudicial em não sendo parte de um projeto mais amplo de segurança, que, infelizmente, não foi construído nas últimas décadas quando tal problema foi se agravando. Contudo, para a urgência do momento, é preciso ter uma interação com os órgãos de segurança, solicitando aumentar as rondas no entorno dos campi e a prontidão no caso de haver ocorrência dentro da Universidade.

                Necessário salientar que a questão da violência também está diretamente relacionada à questão da precarização da Universidade. O parco orçamento para segurança disputa espaço com outras necessidades básicas. Além disso, o enxugamento da categoria de técnico-administrativos privou as Universidades, entre outras áreas, de um corpo de segurança concursado, que sendo parte orgânica da comunidade universitária teria melhores condições para desenvolver um projeto de segurança das pessoas e do patrimônio. Um enfrentamento decidido ao problema da violência passa necessariamente por uma luta contra o processo de desmonte da universidade pública e de precarização do trabalho. Sem investimentos estruturais, sobretudo em pessoal, não conseguiremos sequer nos aproximar de alguma solução minimamente duradoura.

                Essas são apenas algumas das variáveis, que julgamos entre as mais relevantes, que compreendem o tema em tela. Dada essa complexidade, entendemos que é preciso que a Reitoria aumente a abrangência e efetividade da segurança da UFAL, visando também às pessoas, bem como, paralelamente, abra e fomente uma ampla discussão, envolvendo toda a comunidade acadêmica, para construção de um plano de segurança estruturado, calcado no conhecimento científico que a Universidade é capaz de produzir, que contemple ações imediatas e de médio e longo prazos. Não podemos cair na armadilha do imediatismo, tampouco na naturalização da insegurança. Que o saber não ceda ao senso comum rasteiro: não deixemos o medo suspender a razão.

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